O principal aspecto relativo ao ecoturismo é a sustentabilidade; ao focar a preservação do patrimônio natural e cultural, diferencia-se do turismo convencional, a exemplo dos ônibus de excursionistas que por vezes emporcalham as praias. Na maioria das vezes, após a estadia desses o que resulta ao município – e às pessoas, portanto –, é uma enorme quantidade de lixo.
O ecoturismo também contempla as práticas de esportes tais como canoagem, rafiting e trilhas, entre outros. Necessário se faz o acompanhamento dessas atividades por monitores ambientais, qualificados em sua grande maioria a partir da população local. Também há a busca por estudos científicos dos ecossistemas pelos pesquisadores de variadas instituições.
Nossa Iguape, a exemplo de tantos outros lugares, possue ítens tais como geografia (a enorme porção de mata atlântica preservada, p.e.), a historicidade do casario e a própria cultura de seus habitantes tradicionais (artesanatos, p.e.). Esses fatores são atrativos decisivos para se tornar um pólo ecoturístico.
Para além dessas características e implantar o ecoturismo, é necessária a existência de serviços de infra-estrutura (hotéis, pousadas, estradas, telefonia, etc.) em padrão relativo ao público que será recepcionado. Ou seja… Se a cidade não ofertar condições adequadas ao turista não predatório do ecoturismo, ele não virá. Os próprios órgãos emissores (tais como agências de turismo) não terão muito o que fazer se não houver a nossa iniciativa em ser receptivo.
Criado pelo Governo Federal, o PNMT (Plano Nacional de Municipalização do Turismo) da Embratur injeta recursos da Organização Mundial do Turismo, por intermédio do Banco do Brasil, financiando empreendimentos ecoturísticos privados. Já o PNDPE (Programa Nacional de Desenvolvimento de Pólos Ecoturísticos) prevê execução de atividades turísticas em unidades de conservação do meio ambiente, sendo implantado e administrado desde 1996 pelo Ibama. Em nosso caso, em que uma Area de Proteção Ambiental nos cerca, é preciso haver proximidade com as entidades zelosas do meio ambiente para desenvolvermos ações corretas. O que observa-se hoje é um certo ‘estranhamento’ em relação aos agentes públicos que nos auxiliam na preservação do meio ambiente.
Em nossa região, o “Polo Ecoturistico do Lagamar”(3) ainda é um mero projeto que não trouxe até agora grandes conseqüencias sociais. Porém, ainda que seja até o momento um “esboço de especialistas” distante das pessoas comuns, precisamos buscar pelas informações nele contidas(3). Uma pequena pousada, às margens do canal do Mar Pequeno, pode transformar-se em um belo local de trabalho para muitas pessoas ao receber público direcionado. Há que se ter coordenação e ações pontuais, onde a sociedade (eu, você, o teu vizinho,etc) interem-se do assunto e resolvam dúvidas das mais simples até as mais complexas. Afinal, trata-se de desenvolver uma área crítica em que o principal capital não é financeiro. Para a prática dos inúmeros serviços demandados pelos turistas, o essencial são as pessoas. Então, o ‘capital humano’ é o que precisa ser aperfeiçoado a partir de nós mesmos.
Para se inscrever no PNMT o município precisa, antes de mais nada, confeccionar o Relatório de Informações Turísticas, que será analisado e avaliado em relação ao potencial turístico do local. Para tal, no decorrer do ano passado a prefeitura encomendou serviços de consultoria. Tais estudos foram desenvolvidos, anteriormente, pela Fundação SOS Mata Atlântica e estão condensados no projeto “Polo Ecoturistico Lagamar”. O município deveria elaborar três instrumentos de ação: o Conselho Municipal de Turismo, o Plano Municipal de Turismo (?) e o Fundo Municipal de Turismo(?). Uma vez inscrita e habilitada adequadamente pelo PNMT, algumas vantagens surgiriam: FINEP, SEBRAE e Banco do Brasil financiariam projetos através de empréstimos. Até onde recolhi de informações, o COMTUR municipal é incipiente – ao não desenvolver atividades e torná-las públicas –, o Plano Municipal de Turismo é algo que foi encomendado à uma dessas ‘consultorias ilustres desconhecidas’, o qual os munícipes desconhecem totalmente e, por último, o Fundo Municipal de Turismo não existe.
“Para implementar um Plano Municipal de Ecoturismo, o executivo municipal deve determinar qual área da administração será responsável pelo mesmo, tendo o cuidado de respaldá-la tecnicamente no que diz respeito ao meio ambiente. Este órgão ou secretaria deve ter claro quais áreas poderão ser visitadas, qual o perfil do turista que se quer atingir, o objetivo das viagens que serão oferecidas, a infra-estrutura do entorno e a capacitação do pessoal. Outro fator a ser levado em consideração é o planejamento da divulgação, que deve ser responsável, apropriada às condições que o local comporta, para não gerar impactos ambientais ou efeitos negativos no próprio turismo do município (que por não conseguir atender a contento todos que o procuram, pode ficar desacreditado).” (1)
Em nosso caso, no qual o executivo atual contenta-se em ter apenas uma “divisão” relacionada ao Turismo, lotada com duas pessoas, dá para sentir as conseqüencias práticas. Por outro lado, observando as constantes viagens de veículos públicos, creio que estamos nos tornando um importante polo emissor de turistas bancados com dinheiro dos impostos que nos foram tungados.
“Com relação à infra-estrutura, é recomendável sinalizar claramente as estradas e colocar placas bilingües (português e inglês) orientando os turistas; oferecer serviços médicos e de segurança; sistematizar e disponibilizar as informações turísticas. Os espaços de recepção do turista devem possuir pessoal capacitado. O Sebrae vem aumentando seu apoio a esse segmento de negócios, oferecendo cursos.” Aqui em Iguape, ACIC os têm viabizado, num esforço silencioso pela melhoria dos serviços. Outros institutos e ONGs também disponibilizam técnicos para palestras e treinamento.
“Antes de implementar o ecoturismo é necessário saber se a população local está disposta a se envolver, direta ou indiretamente, com esta atividade – indiretamente porque deve haver uma abertura inicial da população para receber pessoas estranhas e com hábitos diferentes. O diálogo permanente com a população, o esclarecimento e a informação constante, o incentivo ao seu envolvimento com estas atividades e participação no Conselho Municipal de Turismo são exemplos de ações que podem ajudar os moradores a descobrirem as oportunidades que se abrem com a implantação do turismo.”
“Em regiões marítimas ou fluviais, pode-se adaptar (sem descaracterizar) as embarcações dos pescadores para atividades turísticas, em épocas de escassez de peixe ou de proibição da pesca (desova). Os pescadores interessados passariam por um breve período de capacitação para exercer esta atividade. É o que vem acontecendo, por exemplo, no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ilha Comprida-SP. (1)
“O projeto “Pólo Ecoturístico do Lagamar” responde à necessidade de apresentar importância do ecoturismo como opção para o desenvolvimento sustentável das populações carentes. Contribui sobretudo com a regulamentação do ecoturismo (critérios para a priorização de áreas), com a difusão de informações para promover essa atividade e com a formação e capacitação de recursos humanos e estímulo à participação comunitária. (1)
Os estudiosos, por outro lado, já começam a nos desacreditar… “A região traz na sua história hábitos paternalistas. A população demonstra uma postura passiva, à espera de soluções vindas de terceiros – governo, ONGs, universidades etc.. O poder público local às vezes alimenta, equivocadamente, este vínculo de dependência. No caso do Lagamar nem os governos municipais, nem a iniciativa privada demonstram ter despertado para o imenso potencial que a região oferece, tampouco para o risco que a falta de planejamento e organização do setor, neste momento de crescimento acelerado*, representa.”
“Os benefícios econômicos, sociais e ambientais do ecoturismo, identificados pelo IBAMA, são os seguintes: diversificação da economia regional (micros e pequenos negócios); geração local de empregos; fixação da população no interior; melhorias na infra-estrutura de transporte, comunicação e saneamento; criação de alternativas de arrecadação para as Unidades de Conservação; diminuição de impacto sobre o patrimônio natural e cultural; diminuição de impacto no plano estético-paisagístico; e melhoria nos equipamentos das áreas protegidas.(4)
Ainda hoje, corre entre nós um certo descaso com relação aos turistas que recebemos. Não raro, ao entrarem em algum estabelecimento comercial são tratados com especial distinção, de forma nitidamente negativa. Muitas vezes, o visitante fica no balcão à espera, sem qualquer atenção, enquanto o atendente ainda faz alguma lorota (relativa ao turista) com algum freguês considerado ‘da casa’. Ou seja: ao invés de sermos receptivos, ainda estamos agindo de forma repulsiva aos convivas, como se a presença deles em nossa cidade não tivesse qualquer importância. Até pedágio cobramos dos turistas que trafegam entre Iguape e Ilha Comprida… Nesse sentido, a existência desse pedágio é como ter uma roleta cobrando para se ir de um ambiente a outro, dentro de uma mesma casa. Como sabemos, Iguape e Ilha Comprida são dois municípios contígüos e complementares em seus atrativos; o turista também percebe isso, tenha certeza.
* A estimativa é de que o crescimento do ecoturismo se situe em 20% ao ano. O faturamento anual do turismo ecológico (mundial) é estimado em US$ 260 bilhões, do qual o Brasil se apropriaria com cerca de US$ 70 milhões (apenas).(4) Considerando a pequena fatia que o Brasil tem, quando observa-se o total que gira em razão do ecoturimo no mundo, é correto imaginar que poderemos avançar rapidamente em taxas muito maiores do que 20% ao ano. Afinal, 70% do restante da mata atlântica nos cerca, além do lagamar do Mar Pequeno.
Fontes
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http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas/dicas_interna.asp?codigo=164
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http://www.sindegtur.org.br/2006/arquivos/a1.pdf
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http://www.sosribeira.org.br/projetos/lagamar2/intro.htm
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http://www.bndes.gov.br/conhecimento/setorial/get4is10.pdf
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